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Burnout: Doença Ocupacional? Guia Completo de Prevenção e Direitos

Você já se sentiu completamente esgotado, não apenas fisicamente, mas mental e emocionalmente, a ponto de a simples ideia de ir trabalhar parecer uma montanha intransponível? Se a resposta é sim, você não está sozinho. O que antes era visto como um “excesso de estresse” ou “frescura”, hoje ganha um nome e um reconhecimento cada vez mais sério: Burnout. Mas será que essa exaustão profunda, que parece sugar toda a sua energia e paixão pelo que você faz, é realmente uma doença ocupacional? E o que isso significa para você, para sua saúde e para seus direitos?

Neste artigo, vamos mergulhar fundo no universo do Burnout, desvendando seus mistérios, entendendo por que ele se tornou uma epidemia silenciosa no mundo corporativo e, mais importante, como ele se encaixa no cenário das doenças relacionadas ao trabalho no Brasil. Prepare-se para uma jornada de autoconhecimento e informação, onde você descobrirá os sinais de alerta, as causas por trás dessa síndrome e, principalmente, o que podemos fazer para preveni-la e tratá-la. Afinal, sua saúde mental no trabalho é um direito, não um luxo.

O Que é Burnout Afinal? Desvendando a Síndrome do Esgotamento Profissional

Imagine-se como uma bateria de celular. No início do dia, ela está cheia, pronta para todas as suas tarefas. Ao longo do dia, você usa aplicativos, faz ligações, navega na internet, e a carga vai diminuindo. Isso é o estresse normal do dia a dia. Agora, imagine que essa bateria nunca recarrega completamente, e você continua usando-a intensamente, dia após dia, semana após semana. Eventualmente, ela não apenas chega a zero, mas começa a apresentar falhas permanentes. Essa é uma boa analogia para o Burnout.

O Burnout, ou Síndrome do Esgotamento Profissional, é muito mais do que um simples estresse. A Organização Mundial da Saúde (OMS), em sua Classificação Internacional de Doenças (CID-11), reconhece o Burnout como uma síndrome resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso. É crucial entender que a OMS o classifica como um “fenômeno ocupacional”, e não como uma condição médica por si só, mas sim como um conjunto de sintomas diretamente relacionados ao contexto profissional.

Essa síndrome se manifesta em três dimensões principais, que se interligam e se retroalimentam, criando um ciclo vicioso de desgaste:

  • Exaustão Emocional: É a sensação avassaladora de estar esgotado, sem energia para lidar com as demandas do trabalho e da vida pessoal. Você se sente drenado, vazio, como se não tivesse mais nada para dar. É como se o seu tanque de energia estivesse permanentemente na reserva, ou pior, completamente seco.
  • Despersonalização (ou Cinismo): Aqui, a pessoa começa a desenvolver uma atitude negativa, cínica ou distante em relação ao trabalho e às pessoas com quem interage (colegas, clientes, pacientes). Você pode se tornar irritadiço, impaciente, e até mesmo desumano em suas interações, tratando os outros como objetos ou números. É um mecanismo de defesa para se proteger da exaustão, mas que acaba por isolar e prejudicar os relacionamentos.
  • Redução da Realização Pessoal: Sabe aquela sensação de que seu trabalho importa, de que você é competente e de que suas contribuições fazem a diferença? No Burnout, essa percepção diminui drasticamente. Você começa a duvidar da sua própria capacidade, sente-se ineficaz e com baixa produtividade, mesmo que esteja se esforçando muito. A satisfação com as conquistas desaparece, e um sentimento de fracasso e desesperança toma conta.

É a combinação desses três pilares que caracteriza o Burnout. Ele não surge de repente; é um processo gradual, insidioso, que se instala quando as demandas do trabalho superam cronicamente a capacidade de recuperação e os recursos do indivíduo. E o pior: muitas vezes, a pessoa só percebe a gravidade da situação quando já está em um estágio avançado, com a saúde seriamente comprometida.

Burnout como Doença Ocupacional no Brasil: O Que Muda Para Você?

A classificação da OMS trouxe um novo fôlego para o reconhecimento do Burnout, mas como isso se traduz na realidade brasileira, especialmente no que diz respeito aos direitos do trabalhador? No Brasil, o Burnout é, sim, considerado uma doença ocupacional ou, mais precisamente, uma doença relacionada ao trabalho, desde que comprovado o nexo causal entre a síndrome e as condições de trabalho.

A legislação brasileira, por meio da Portaria nº 1.339/1999 do Ministério da Saúde e, mais recentemente, pela lista de doenças relacionadas ao trabalho do Ministério da Saúde (Portaria GM/MS nº 1.999/2023), já incluía o Burnout (sob o código Z73.0 da CID-10, agora QD85 na CID-11) como um transtorno mental e comportamental relacionado ao trabalho. Isso significa que, se um profissional for diagnosticado com Burnout e for comprovado que as condições de seu ambiente de trabalho foram a causa ou um fator desencadeante da síndrome, ele pode ter acesso a uma série de direitos.

O Papel do Nexo Causal e da CAT

Para que o Burnout seja reconhecido como doença ocupacional, é fundamental estabelecer o nexo causal, ou seja, a ligação direta entre a doença e o trabalho. Isso geralmente é feito por meio de:

  • Diagnóstico Médico: Um médico (clínico geral, psiquiatra ou psicólogo) deve diagnosticar o Burnout.
  • Histórico Profissional: A análise das condições de trabalho, carga horária, pressão, metas abusivas, assédio moral, falta de autonomia, entre outros fatores.
  • Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT): A empresa, ao tomar conhecimento do diagnóstico e do nexo causal, deve emitir a CAT. Se a empresa se recusar, o próprio trabalhador, seus dependentes, o sindicato, o médico ou a autoridade pública podem fazê-lo. A CAT é um documento essencial para que o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) reconheça a doença como ocupacional.

Quais Direitos o Trabalhador Atingido pelo Burnout Pode Ter?

Uma vez que o Burnout é reconhecido como doença ocupacional, o trabalhador pode ter acesso a importantes direitos, que visam garantir sua recuperação e proteção:

  • Afastamento do Trabalho e Auxílio-Doença Acidentário (B91): Se o médico determinar a necessidade de afastamento por mais de 15 dias, o trabalhador terá direito ao auxílio-doença acidentário (código B91 do INSS). Diferente do auxílio-doença comum (B31), o B91 garante a manutenção do vínculo empregatício e outros benefícios.
  • Estabilidade Provisória no Emprego: Após o retorno do afastamento pelo INSS (se o afastamento for superior a 15 dias), o trabalhador tem direito a uma estabilidade provisória de 12 meses no emprego, o que significa que ele não pode ser demitido sem justa causa nesse período.
  • Depósito do FGTS: Durante o período de afastamento por auxílio-doença acidentário, a empresa é obrigada a continuar depositando o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) do trabalhador.
  • Indenização por Danos Morais e Materiais: Se for comprovada a culpa ou dolo da empresa nas condições que levaram ao Burnout (por exemplo, assédio moral, metas inatingíveis, sobrecarga excessiva), o trabalhador pode buscar na Justiça do Trabalho uma indenização por danos morais (pelo sofrimento e abalo psicológico) e materiais (pelos gastos com tratamento, perda de capacidade de trabalho, etc.).
  • Reabilitação Profissional: Em casos mais graves, o INSS pode oferecer um programa de reabilitação profissional para auxiliar o trabalhador a retornar ao mercado de trabalho, seja na mesma função ou em outra compatível com sua condição de saúde.

É fundamental que o trabalhador busque apoio médico e jurídico ao suspeitar de Burnout. Documentar as condições de trabalho, guardar e-mails, mensagens, e qualquer evidência de sobrecarga ou pressão excessiva pode ser crucial para comprovar o nexo causal.

Sintomas do Burnout: Fique Atento aos Sinais de Alerta

O Burnout não chega com um aviso sonoro. Ele se instala sorrateiramente, muitas vezes mascarado como “cansaço normal” ou “fase difícil”. Mas se você prestar atenção, seu corpo e sua mente enviam sinais claros de que algo não vai bem. Ignorá-los é como ignorar a luz de advertência do motor do seu carro: uma hora, ele vai parar. Quais são, então, esses sinais que você não pode ignorar?

Sinais Físicos: O Corpo Grita o Que a Mente Tenta Esconder

  • Fadiga Crônica: Não é apenas estar cansado no final do dia. É uma exaustão que não passa com o descanso, que te acompanha ao acordar e persiste ao longo do dia. Você se sente constantemente sem energia, como se tivesse corrido uma maratona todos os dias.
  • Distúrbios do Sono: Insônia, dificuldade para pegar no sono, sono agitado, ou, paradoxalmente, uma necessidade excessiva de dormir que nunca parece ser suficiente.
  • Dores de Cabeça Frequentes: Cefaleias tensionais, enxaquecas que se tornam mais intensas e recorrentes.
  • Problemas Gastrointestinais: Dores de estômago, azia, síndrome do intestino irritável, diarreia ou constipação. O estresse afeta diretamente o sistema digestivo.
  • Queda da Imunidade: Você começa a ficar doente com mais frequência, pegando gripes, resfriados e infecções virais com facilidade. Seu corpo está tão exausto que não consegue se defender.
  • Dores Musculares e Tensão: Principalmente na região do pescoço, ombros e costas, resultado da tensão constante.

Sinais Emocionais: A Montanha-Russa Interna

  • Irritabilidade e Impaciência: Pequenos aborrecimentos se tornam grandes explosões. Você se irrita facilmente com colegas, familiares e até com situações triviais.
  • Ansiedade e Nervosismo: Uma sensação constante de apreensão, preocupação excessiva com o futuro, dificuldade em relaxar.
  • Tristeza Profunda e Desânimo: Uma melancolia persistente, falta de esperança, perda de interesse em atividades que antes davam prazer. Pode evoluir para um quadro depressivo.
  • Sentimento de Fracasso e Incompetência: Mesmo que você seja um profissional competente, a sensação de que não está entregando o suficiente ou de que não é bom o bastante se instala.
  • Isolamento Social: Você começa a se afastar de amigos e familiares, evitando compromissos sociais e preferindo ficar sozinho.

Sinais Cognitivos e Comportamentais: O Impacto no Desempenho

  • Dificuldade de Concentração e Memória: Você se pega esquecendo coisas simples, perdendo o foco em tarefas e tendo dificuldade para tomar decisões.
  • Queda de Produtividade: O que antes era fácil se torna um desafio. As tarefas demoram mais para serem concluídas, e a qualidade do trabalho diminui.
  • Procrastinação: A dificuldade em iniciar ou concluir tarefas se torna um hábito.
  • Cinismo e Negativismo: Uma visão pessimista sobre o trabalho, a empresa e os colegas. Você se torna mais crítico e menos empático.
  • Aumento do Absenteísmo: Faltas frequentes ao trabalho, atrasos, ou até mesmo “presenteísmo” (estar presente fisicamente, mas sem engajamento ou produtividade).
  • Uso de Substâncias: Em alguns casos, a pessoa pode recorrer ao álcool, tabaco ou outras substâncias para tentar lidar com o estresse e a ansiedade.

Se você identificou vários desses sinais em si mesmo ou em alguém próximo, é um alerta vermelho. Não espere que a situação piore. Buscar ajuda profissional é o primeiro e mais importante passo para reverter o quadro e iniciar o caminho da recuperação.

Causas do Burnout: Por Que Acontece Conosco?

O Burnout não é um problema individual; é um reflexo de um sistema. Embora fatores pessoais possam influenciar a vulnerabilidade de cada um, a principal raiz do Burnout está nas condições do ambiente de trabalho. É como um solo infértil que, por mais que você plante uma semente forte, ela terá dificuldade em florescer. Quais são, então, os “fertilizantes tóxicos” que contribuem para o Burnout?

Fatores Organizacionais: O Ambiente que Adoece

  • Sobrecarga de Trabalho Crônica: Excesso de tarefas, prazos irrealistas, longas jornadas de trabalho sem pausas adequadas. A sensação de que “nunca é o suficiente” e que a lista de afazeres só cresce.
  • Falta de Controle e Autonomia: Quando o profissional não tem voz nas decisões que afetam seu trabalho, não pode gerenciar seu tempo ou suas tarefas, sente-se como uma peça de engrenagem sem controle sobre seu próprio destino.
  • Recompensa Insuficiente: Não se trata apenas de salário. A falta de reconhecimento, de feedback positivo, de oportunidades de crescimento e de um senso de justiça na remuneração e nos benefícios pode ser extremamente desmotivadora.
  • Comunidade Quebrada: Ambientes de trabalho tóxicos, com conflitos interpessoais, falta de apoio dos colegas e da liderança, assédio moral ou sexual. A ausência de um senso de pertencimento e camaradagem.
  • Injustiça: Percepção de tratamento desigual, favoritismo, decisões arbitrárias, falta de transparência nos processos e na distribuição de tarefas ou recompensas.
  • Valores Conflitantes: Quando os valores pessoais do trabalhador não se alinham com os valores ou a ética da empresa. Isso gera um conflito interno constante e um sentimento de desonestidade.
  • Falta de Clareza de Papel: Não saber exatamente quais são suas responsabilidades, expectativas e limites. Isso gera confusão, ansiedade e a sensação de estar sempre “apagando incêndios”.

Fatores Individuais: Como Nossas Características Podem Influenciar

Embora o foco principal deva ser nas causas organizacionais, algumas características individuais podem tornar uma pessoa mais suscetível ao Burnout, especialmente quando combinadas com um ambiente de trabalho desfavorável:

  • Perfeccionismo Excessivo: A busca incessante pela perfeição pode levar a uma sobrecarga autoimposta e à dificuldade em delegar tarefas.
  • Necessidade de Controle: Pessoas que sentem a necessidade de controlar tudo podem se frustrar e se esgotar em ambientes onde têm pouca autonomia.
  • Dificuldade em Dizer “Não”: A incapacidade de estabelecer limites e recusar demandas excessivas pode levar à sobrecarga.
  • Altas Expectativas: Expectativas irrealistas sobre si mesmo ou sobre o trabalho podem gerar frustração e exaustão.
  • Baixa Autoestima: A busca por validação externa através do trabalho pode levar a uma dedicação excessiva e à negligência das próprias necessidades.

É importante ressaltar que esses fatores individuais não são a causa do Burnout, mas sim elementos que podem amplificar o impacto das condições de trabalho estressantes. A responsabilidade primária pela prevenção do Burnout recai sobre as organizações, que devem criar ambientes de trabalho saudáveis e sustentáveis.

Diagnóstico e Tratamento: O Caminho para a Recuperação

Receber o diagnóstico de Burnout pode ser um alívio para muitos, pois finalmente dá um nome ao sofrimento. Mas é também o início de uma jornada de recuperação que exige paciência, autocompaixão e, acima de tudo, ajuda profissional. Como você pode iniciar esse processo de cura?

O Diagnóstico: Um Olhar Multidisciplinar

O diagnóstico do Burnout é clínico, ou seja, baseado na avaliação dos sintomas, do histórico do paciente e da relação com o ambiente de trabalho. Não existe um exame de sangue ou imagem que detecte o Burnout. Geralmente, ele envolve a atuação de diversos profissionais:

  • Médico Clínico Geral: Pode ser o primeiro contato, ajudando a descartar outras condições médicas e a encaminhar para especialistas.
  • Psiquiatra: Essencial para avaliar a necessidade de medicação (antidepressivos, ansiolíticos) para tratar sintomas como insônia, ansiedade e depressão, que frequentemente acompanham o Burnout.
  • Psicólogo: A terapia, especialmente a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), é fundamental. Ela ajuda o indivíduo a identificar padrões de pensamento e comportamento disfuncionais, a desenvolver estratégias de enfrentamento, a estabelecer limites e a reconstruir a autoestima.
  • Outros Profissionais: Nutricionistas, educadores físicos e terapeutas ocupacionais podem complementar o tratamento, auxiliando na recuperação física e na adaptação a novas rotinas.

A honestidade com os profissionais de saúde é crucial. Descreva seus sintomas detalhadamente, fale sobre seu ambiente de trabalho, suas rotinas e suas emoções. Quanto mais informações você fornecer, mais preciso será o diagnóstico e o plano de tratamento.

O Tratamento: Uma Abordagem Holística

O tratamento do Burnout é um processo que visa não apenas aliviar os sintomas, mas também abordar as causas subjacentes e promover uma mudança de estilo de vida e de relação com o trabalho. Ele geralmente inclui:

  • Afastamento do Trabalho: Em muitos casos, um período de afastamento é essencial para que o indivíduo possa se desconectar do ambiente estressor e iniciar a recuperação.
  • Terapia Psicológica: Ajuda a pessoa a processar as emoções, a desenvolver resiliência, a aprender a gerenciar o estresse e a estabelecer limites saudáveis.
  • Medicação: Se houver sintomas de depressão ou ansiedade severos, o psiquiatra pode prescrever medicamentos para auxiliar no reequilíbrio químico do cérebro.
  • Mudanças no Estilo de Vida:
    • Sono de Qualidade: Priorizar um sono reparador é vital para a recuperação física e mental.
    • Alimentação Saudável: Uma dieta equilibrada fornece a energia necessária para o corpo e o cérebro.
    • Atividade Física Regular: Exercícios liberam endorfinas, reduzem o estresse e melhoram o humor.
    • Técnicas de Relaxamento: Meditação, mindfulness, yoga, respiração profunda podem ajudar a acalmar a mente e o corpo.
    • Hobbies e Lazer: Redescobrir atividades que trazem prazer e satisfação fora do trabalho é fundamental para recarregar as energias e resgatar a identidade.
    • Estabelecimento de Limites: Aprender a dizer “não”, a delegar e a proteger seu tempo e energia é um passo crucial.
  • Reavaliação Profissional: Em alguns casos, pode ser necessário reavaliar a carreira, buscar um novo emprego ou até mesmo uma transição de área, especialmente se o ambiente de trabalho atual for irremediavelmente tóxico.

A recuperação do Burnout não é linear. Haverá dias bons e dias ruins. O importante é persistir no tratamento, ser gentil consigo mesmo e lembrar que sua saúde é sua prioridade número um. A empresa também tem um papel importante em apoiar a recuperação do funcionário, oferecendo um ambiente de retorno seguro e adaptado, se possível.

Prevenção do Burnout: Construindo um Ambiente de Trabalho Saudável

A melhor forma de lidar com o Burnout é não chegar a ele. A prevenção é uma responsabilidade compartilhada entre o indivíduo e a organização. Se pensarmos no Burnout como um incêndio, a prevenção é como ter bons sistemas de alarme e saídas de emergência, além de evitar que o fogo comece. O que podemos fazer para construir um ambiente de trabalho que nutre, em vez de esgotar?

Para o Indivíduo: Seja o Guardião da Sua Própria Energia

  • Estabeleça Limites Claros: Aprenda a dizer “não” a demandas excessivas. Defina horários para começar e terminar o trabalho e respeite-os. Evite levar trabalho para casa ou verificar e-mails fora do expediente.
  • Priorize o Autocuidado: Não encare o autocuidado como um luxo, mas como uma necessidade. Isso inclui sono adequado, alimentação saudável, exercícios físicos regulares e tempo para hobbies e lazer.
  • Gerencie Suas Expectativas: Seja realista sobre o que você pode e não pode fazer. Não se cobre excessivamente e entenda que a perfeição é inatingível.
  • Busque Apoio Social: Mantenha contato com amigos e familiares. Compartilhe suas preocupações e sentimentos com pessoas de confiança.
  • Desenvolva Habilidades de Enfrentamento: Aprenda técnicas de gerenciamento de estresse, como mindfulness, meditação ou exercícios de respiração.
  • Faça Pausas Regulares: Durante o dia de trabalho, levante-se, alongue-se, faça uma pequena caminhada. Pequenas pausas podem fazer uma grande diferença.
  • Invista em Desenvolvimento Pessoal: Aprender novas habilidades ou aprimorar as existentes pode aumentar sua autoconfiança e senso de realização.
  • Monitore Seus Sinais: Fique atento aos primeiros sinais de cansaço excessivo, irritabilidade ou desmotivação. Quanto antes você agir, mais fácil será reverter o quadro.

Para as Organizações: Cultivando um Ambiente de Bem-Estar

As empresas têm um papel crucial na prevenção do Burnout, pois são as condições de trabalho que, em grande parte, o desencadeiam. Investir na saúde mental dos colaboradores não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas também de inteligência de negócios, pois funcionários saudáveis são mais produtivos e engajados.

  • Carga de Trabalho Justa e Realista: Distribuir tarefas de forma equitativa, evitar sobrecarga crônica e estabelecer prazos realistas.
  • Promoção do Equilíbrio Vida-Trabalho: Incentivar o respeito aos horários de descanso, oferecer flexibilidade (quando possível) e desestimular a cultura do “sempre conectado”.
  • Reconhecimento e Feedback: Valorizar o trabalho dos colaboradores, oferecer feedback construtivo e reconhecimento pelas conquistas.
  • Autonomia e Controle: Dar aos funcionários mais controle sobre suas tarefas, métodos de trabalho e horários, sempre que viável.
  • Cultura de Apoio e Respeito: Promover um ambiente onde a comunicação é aberta, o assédio é intolerável e os colegas se apoiam mutuamente. Oferecer canais seguros para denúncias.
  • Desenvolvimento de Lideranças: Treinar gestores para que sejam líderes empáticos, que saibam identificar sinais de estresse em suas equipes e oferecer suporte.
  • Programas de Bem-Estar: Oferecer acesso a programas de apoio psicológico, workshops sobre gerenciamento de estresse, atividades físicas e outras iniciativas que promovam a saúde mental.
  • Clareza de Papéis e Expectativas: Garantir que cada colaborador entenda claramente suas responsabilidades, metas e como seu trabalho contribui para os objetivos da empresa.
  • Investimento em Ergonomia: Um ambiente físico de trabalho adequado também contribui para o bem-estar geral.

A prevenção do Burnout é um investimento no capital humano da empresa. Ao criar um ambiente onde as pessoas se sentem valorizadas, respeitadas e com recursos para lidar com os desafios, as organizações não apenas evitam o adoecimento, mas também constroem equipes mais resilientes, inovadoras e felizes.

Conclusão: Sua Saúde Mental é Prioridade

Chegamos ao fim da nossa jornada sobre o Burnout, e esperamos que você saia daqui com uma compreensão mais profunda dessa síndrome que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo. Vimos que o Burnout é muito mais do que um simples cansaço; é um esgotamento profundo, com sérias consequências para a saúde física e mental, e que, sim, é reconhecido como uma doença relacionada ao trabalho no Brasil, conferindo direitos importantes aos trabalhadores.

A mensagem central é clara: sua saúde mental no trabalho não é um detalhe, é a base de tudo. Ignorar os sinais do Burnout é como tentar dirigir um carro com o motor fundindo. Mais cedo ou mais tarde, ele vai parar. Seja proativo, ouça seu corpo e sua mente, e não hesite em buscar ajuda profissional se você ou alguém que você conhece estiver enfrentando essa batalha. Lembre-se, pedir ajuda é um sinal de força, não de fraqueza.

Para as empresas, o recado é igualmente importante: a responsabilidade pela criação de ambientes de trabalho saudáveis é de todos, mas a liderança tem um papel fundamental. Investir em prevenção, em uma cultura de cuidado e em práticas que promovam o bem-estar dos colaboradores não é um custo, é um investimento inteligente que retorna em produtividade, engajamento e inovação. Que possamos, juntos, construir um futuro onde o trabalho seja uma fonte de realização, e não de esgotamento.

Perguntas Frequentes (FAQs)

O Burnout é considerado uma doença ocupacional no Brasil?

Sim, o Burnout é reconhecido no Brasil como uma doença relacionada ao trabalho, desde que haja comprovação do nexo causal entre a síndrome e as condições do ambiente profissional. Ele está incluído na lista de doenças relacionadas ao trabalho do Ministério da Saúde e pode gerar direitos previdenciários e trabalhistas, como o auxílio-doença acidentário e a estabilidade provisória no emprego.

Qual a diferença entre estresse e Burnout?

O estresse é uma resposta natural do corpo a demandas e desafios, podendo ser agudo e até positivo (eustresse). O Burnout, por outro lado, é uma síndrome resultante do estresse crônico e não gerenciado no trabalho, caracterizada por exaustão emocional, despersonalização (cinismo) e redução da realização pessoal. Enquanto o estresse pode ser pontual, o Burnout é um esgotamento sistêmico e prolongado.

Quais são os direitos do trabalhador diagnosticado com Burnout?

Se o Burnout for reconhecido como doença ocupacional, o trabalhador pode ter direito a afastamento do trabalho com auxílio-doença acidentário (B91) pelo INSS, estabilidade provisória de 12 meses no emprego após o retorno, manutenção dos depósitos do FGTS durante o afastamento, e, em casos de culpa da empresa, indenização por danos morais e materiais.

A empresa tem responsabilidade no desenvolvimento do Burnout?

Sim, a empresa tem responsabilidade direta se as condições de trabalho forem a causa principal ou um fator determinante para o desenvolvimento do Burnout. Isso inclui sobrecarga excessiva, metas inatingíveis, assédio moral, falta de autonomia, ambiente tóxico, entre outros. A legislação brasileira prevê que as empresas devem garantir um ambiente de trabalho seguro e saudável, incluindo a saúde mental.

Como posso prevenir o Burnout no meu dia a dia?

A prevenção envolve autocuidado e estabelecimento de limites. Priorize seu sono, alimentação e atividade física. Aprenda a dizer “não” a demandas excessivas, defina horários para desconectar do trabalho, faça pausas regulares e invista em hobbies e lazer. Busque apoio social e, se sentir os primeiros sinais, não hesite em procurar ajuda profissional para evitar que a situação se agrave.

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